JERUSALÉM VIVE A MAIOR SECA DA HISTÓRIA

 

Jerusalém – Inhapim/MG

 20 DE JANEIRO


EDIÇÃO EXTRA ORDINÁRIO

Edição nº 63 – Ano 5 - 2013


JERUSALÉM VIVE A MAIOR SECA DE SUA HISTÓRIA EM QUADRINHO

 

O patrimônio de Jerusalém – Inhapim/MG, vive hoje a mais terrível seca dos últimos mil anos que já passaram. Nunca na história moderna, contemporânea e atual deste povoado houve uma seca tão seca quanto esta que estamos vivendo nestes últimos meses de lá pra cá.

 

Tamanha é esta seca que até mudou a forma dos crimes cometidos na região. Nesta semana, por exemplo, três homens foram detidos ao tentarem roubar o rio que passa na fazenda do César. Eles estavam com um caminhão pipa e outro papagaio, roubados em Dom Cavati. Depois de uma dúzia de denúncias anônimas realizadas pelo Checo, sem ninguém saber, os criminosos foram presos quando tentavam se evadir saindo do local e do lugar do roubo. Quem mais ficou feliz com a apreensão e prisão dos criminosos foram as crianças de Dom Cavati que tiveram devolvido os carros pipa e papagaio.

 

Ontem quando voltava da cidade em seu carro o dono do treiler Jerusa Lanches, Sandro Alves, foi assaltado por dois homens fortemente armados cada um com uma barra de chocolate e duas pistolas d'água, dessas compradas em lojas de brinquedos para crianças infantis e pequenas. Assustado o dono e proprietário do Jerusa Lanches tirou toda a mercadoria do carro, mais ou menos 70 caixas de latão de cerveja (não mencionaremos que era da Skol, já que ainda não acertamos o patrocínio) e todo dinheiro que tinha na carteira, cerca de 2 mil e 700 reais. Mas para a surpresa do empresário os assaltantes recusaram toda a mercadoria e o dinheiro e roubaram apenas a água do radiador.

 

Outra modalidade de roubo em Jerusalém é o assalto aos canos de água que vão diretamente para as residência onde moram as pessoas da casa. O sujeito fura o cano e desvia a água para um barril até enche-lo de água e depois deixa ele descer o morro rolando, deixando o dono da casa como sujeito prejudicado.

Cerca de três semanas atrás, Jerusalém viveu o primeiro sequestro de sua história. Uma criança pequena, cujo os pais pediram para não mencionarmos o nome, foi sequestrada e ficou cerca de arame farpado cinco dias em poder dos sequestradores, que depois de receber o resgate de aproximadamente 10 mil litros de água fugiram para regiões mais distantes. A criança, felizmente, foi achada perdida próxima ao posto de saúde velho que agora é escola municipal. Os sequestradores não foram identificados pois a criança não soube explicar porque que os três mosqueteiros são quatro e porque o pelo do peito do pé de Pedro é preto.

 

Mas a situação anda tão preocupante que o dinheiro perdeu todo o valor em Jerusalém, apenas está servindo pra brincadeiras das crianças e pra outras necessidades básicas privadas. Agora a moeda de troca em Jerusalém é a água que anda em falta, por exemplo se você for na Mercearia Mafra ou na Mercearia Souza e Silva para comprar uma sacola de arroz, basta levar um copo cheio de água que você comprará o arroz e ainda receberá de um conta gotas três gotinhas como troco. Com uma caixa de mil litros cheia de água você consegue comprar uma moto Titan 2009 e com três mil litros você compra um Fiat Uno 2007 conservado.

 

Já os antigos jogadores de baralho, como por exemplo: Zé do Carmo, Golveia, Lucinho, Flávio, Mané Dico entre outros jogadores já não utilizam mais o dinheiro de papel e nem de moedas de metal para as apostas. Agora trazem um balde com um pouco de água e um copo americano. No jogo o que vale é um copo cheio de água e o vencedor vai enchendo o balde. Zé do Carmo, na semana passada, levou quatro baldes cheios de água pra casa, deixando sua esposa muito feliz com a fartura daquele dia.

 

Banho em Jerusalém se tornou uma coisa rara, inclusive as pessoas estão até evitando pensar muito para evitar o suor e se conservar o mais limpo possível. Sendo que hoje o banho comercial se transformou em um dos investimentos mais lucrativos da era moderna de Jerusalém. Hoje o que mais tem aqui são as Estações de Banho, como são conhecidos os banheiros comerciais.

 

Ontem choveu durante 2 minutos no patrimônio, enquanto algumas beatas se ajoelhavam chorando e gritando em felicidade e agradecimento pela chuva, as crianças e muitos dos moradores corriam com copos enchendo de água e indo na Mercearia Mafra e na Mercearia Souza e Silva fazer compras. Alguns meninos inteligentes fizeram uma barragem, dessas que a gente fazia pra brincar na época das vacas gordas, e cercavam a água, depois iam coando pra tirar a sujeira grossa e trocavam três copos de água suja por um de água limpa e corriam para ao Bar Agito Geral para comprar biscoito. Diga-se de passagem que ontem foi um dia muito especial e alegre, coisa que estava faltando aqui nos últimos meses.

 

O mais interessante foi quando o povo ficou sabendo que o ex-jogador de futebol e de bola Geraldo, mais conhecido como Gê, iria fazer uma cirurgia para a retirada de água do joelho. Isso fez com que uma multidão de pessoas fizessem uma fila de 20 km para tentar pegar um pouquinho dessa água.

 

Hoje o patrimônio de Jerusalém está mais seco do que roupa seca em varal em dia de sol quente. Mas a população local e daqui não perdeu a esperança, já que mesmo que não tenha cabelo as minas daqui são da hora e ainda estão conseguindo abastecer metade das casas do patrimônio, sendo que a outra metade está sendo abastecida pela metade das casas que são abastecidas pelas minas da hora. Sendo que a solidariedade é que faz o povo caminhar pra frente em direção reta rumo a Novo Horizonte, mas sem perder a confiança de que tudo passa e tudo passará.

 

De acordo e segundo as autoridades locais e de Inhapim os crimes aquáticos, como estão sendo chamados aqui, deverão ser combatidos com rigor e dureza. Segundo os Homens de Roupa Parda: “Não daremos sopa para criminosos.” Comentário que deixou o povo mais tranquilo e conformado com a ação de combate aos Bandidos Molhados (organização criminal de Jerusalém).

 

No final do fim os moradores esperam que tudo volte ao normal e que o patrimônio de Jerusalém volte a ser como era antes. E que a água volte a escorrer pela rua o dia todo.

No alto, lá em cima da Igreja Católica o urubu espreita na esperança de algum animal quadrúpede, bípede ou sem pede morrer de sede para se transformar em um belo banquete.

 

 Reportagem: A. Gariballdi