Patrimônio de Jerusalém foi criado por causa da necessidade de ter uma urna de votação, já que havia sido proibido pelas autoridades eleitorais as urnas em fazenda, o que era normal nas localidades. O senhor Adão Evaristo foi convidado a fazer uma casa para assim iniciar o povoado em Jerusalém, que tinha o nome de Ferrugem.
O nome Jerusalém surgiu por causa da escola que funcionava na fazenda do Senhor Araújo e tinha o nome de Jerusalém, lá se estudava até a 4ª série e ficava num lugar reservado.
O povoado era bem frequentado, pois havia nele uma capelinha no lugar onde hoje está instalada a Casa Paroquial e o primeiro padre a celebrar uma missa no local foi o Padre Othon. As ruas eram estreitas e cheias de buracos e com muito barro na época de chuva. Os animais como galinhas, porcos, cabritos eram criados soltos pelas ruas.
Não havia telefone e as pessoas se comunicavam através de cartas. Não havia uma pessoa específica para levar e trazer as cartas de Inhapim. Os moradores levavam as próprias cartas e traziam e sempre aproveitavam para ver se tinha correspondência para alguém da comunidade.
As pessoas da comunidade usavam os animais como meio de transporte ou iam a pé para Inhapim. O primeiro carro foi comprado pelo Senhor Tim Paiva. Ele comprou um fusca azul.
Os talheres tinham que ser ariados para não enferrujarem. Não se usava garrafa térmica e a água era levada em cumbuca e o café em chaleira. A água para beber e cozinhar era buscada em minas, para lavar roupas se usava a água do rio, que naquela época era bem limpa.
O lugar era precário de banheiro e nem todas as pessoas possuíam um. Então, elas usavam os banheiros das casas que já possuíam o seu e acabava virando banheiros comunitários. Em algumas casas se construíam chiqueiros embaixo dos banheiros. Para tomar banho as pessoas esquentavam a água no fogão de lenha e tomavam banho de bacia. A eletricidade só chegou em 1970.
As paredes das casas eram feitas de ripas e bambus e rebocadas com barro. Os telhados eram de tábuas e chovia muito dentro de casa. As pessoas dormiam em colchão de palha ou esteira de taboão. As camas eram feitas com estacas fincadas no chão e tinham a armação de bambu e as esteiras eram colocadas em cima da armação e a cama estava pronta para o uso.
Os cabelos eram cortados pelo Senhor Gonzaga e pelo Senhor Antônio da Vila.
O primeiro comércio foi montado pelo Senhor Adão
Evaristo, era um armazém e uma loja. Também o Senhor Inácio e o Senhor Santiago abriram comércio no local.
Não havia um local determinado para se jogar os lixos, as pessoas queimavam ou depositavam os lixos nos vários buracos existentes naquela época.
O trabalho era o de roça mesmo, as pessoas plantavam praticamente os mesmos produtos de hoje, só que não existia pastagem e com o passar do tempo muitos agricultores passaram a criar gado.
As crianças da época gostavam de brincar de Passar anel, Quente e frio, Brincadeira do litro e chapéu, se colocava o litro no meio da rua e um chapéu em cima dele e os meninos ficavam longe, aquele que fosse mais rápido pegava o chapéu. Elas também cantavam cantigas de roda como: Fui no Itororó, Limão limoeiro. Contavam histórias do Lobo Mau, João e Maria. Os homens gostavam de jogar futebol. Eles jogavam todos os domingos.
Para tirar fotos as pessoas tinham que ir para Inhapim, já que não havia fotógrafos disponíveis no lugar. Até os casamentos eram realizados em Inhapim. Os noivos e os convidados iam a pé ou a cavalo levando as roupas em malas, naquela época não se usava alugar, tinham que fazer as roupas de casamento contratando o serviço de alguma costureira. As roupas de uso normal eram feitas na própria casa ou por costureiras da comunidade.
Poesia feita por alunos de Jerusalém
Jerusalém
O povoado de Jerusalém
Foi construído pra eleição
Otávio Brasiliense
O construiu por precisão
Não tinha vasos sanitários
Tão pouco eram os banheiros
Eram quase comunitários
Embaixo tinham até chiqueiros
As casas eram rebocadas com barro
Como a casa do Senhor Adão
Usavam tábuas no lugar de telha
Pra servir de abrigo e proteção
Os animais eram soltos
Como galinha, porco e cabrito
Se misturavam com as pessoas
Devia ser bem esquisito
Na capelinha não havia casamento
Para o noivo dizer sim
Montava no lombo de um jumento
Ou ia a pé pra Inhapim
Pra levar as cartas ao correio
Não havia nenhum carteiro
As pessoas se ajudavam
Sem cobrar nenhum dinheiro
Muitas brincadeiras eram diferentes
As cantigas são bem parecidas
Todo mundo tem a sua época
Isso tudo faz parte da vida
O tempo foi passando
As casas ficaram diferentes
As ruas foram asfaltadas
Ficou bem melhor pra gente
A criançada brinca mais
Não precisam trabalhar
Vai pra escola todo dia
Sua obrigação é estudar
Através de Carminha, diretora da EE Alberto Azevedo e filha do professor Boanerges, temos em mãos o relato feito a punho pelo próprio Boanerges sobre a fundação do povoado de Jerusalém.
História do Povoado de Jerusalém
Em 1958, mais precisamente em março de 1958 o vereador pela região de Jerusalém Boanerges Araújo Netto, encontrando-se com o Deputado Federal pelo Inhapim Dr. Guilhermino de Oliveira na cidade, houve o seguinte diálogo:
__ Boanerges, tenho uma notícia ruim a lhe dar.
__ Qual Dr.?
__ Não vamos poder ter eleição em Jerusalém (ele se refere ao prédio da Escola Típica Rural de Jerusalém, que funcionava em terreno doado por Otávio Brasiliense de Araújo, na Fazenda Jerusalém). Isto porque a legislação eleitoral mudou em povoados.
__ Doutor, se a questão é povoado, o caso é construir o povoado.
__ É, se construir o povoado, resolve-se a questão.
E ficou aí a conversa.
Um mês depois, em princípio de abril, encontrava-se novamente o vereador com o deputado e o diálogo recomeçou:
__ Então doutor? Vamos ou não vamos construir o povoado?
__ Mas, então, você está falando sério?
__ Claro doutor, vamos construir o povoado. Mas, afinal, o que povoado?
__ Num terreno público municipal, alinham-se duas ou três ruas, constroem-se pelo menos dez casas, uma igreja, uma escola funcionando, sendo que as dez casas cadastradas na prefeitura, com moradores. Isto é que é um povoado.
__ Pois, doutor, nós vamos fazer o povoado.
__ Mas tem um por menor: para que haja eleições nesse povoado, ele tem que ser construído até dia 20 de julho próximo que é a data em que expira o prazo para a entrada em juízo, com a documentação, pedindo as urnas para o povoado.
__ Eu acho o prazo suficiente.
Dia 14 de abril de 1958 a Câmara Municipal de Inhapim, votava a lei autorizando a prefeito Sr. Antônio Fernande Filho a adquirir o terreno para construção do povoado.
A escolha do local deve-se à circunstância de que ali já havia uma capelinha em terreno da igreja que se reuniu ao terreno municipal.
O vereador tomou a frente dos trabalhos e no dia 16 de julho, quatro dias, portanto, antes do prazo, entregou a documentação necessária ao requerimento da urna para o povoado que recebeu o nome de Povoado de Jerusalém.
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Escritura comprovando que o terreno pertencia à Prefeitura Municipal de Inhapim.
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Documentação fornecida pela prefeitura de que havia casas lançadas.
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Documento comprovante de que havia igreja na localidade.
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Documento de que havia escola funcionando.
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Documento comprovando que havia cemitério nas imediações.
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Documento de que havia condições de funcionar três urnas na localidade.
Os dez primeiros moradores do Povoado de Jerusalém foram:
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Oswaldo Chaves de Paiva
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Geraldo Chaves de Paiva
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Adão Evaristo Ferreira
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Geraldo Damasceno da Silva
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José Inácio da Silva
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Josué de Paula Cunha
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Geraldo (genro do Sr. Antônio Tié)
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Benvindo Domingues
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Antão Miranda
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Henrique Batista da Silva
Escola de Jerusalém
A primeira escola do Povoado de Jerusalém tinha o nome de Escola Inês Aurora Fernandes e funcionou onde é hoje a República dos Professores. A professora era Dona Maria Conceição Miranda.
Em 1970, foi inaugurado o atual prédio da Escola de Jerusalém, fazendo-se a fusão da Escola Inês Aurora Fernandes e a Escola Típica Rural de Jerusalém que funcionava na Fazenda Jerusalém. A primeira diretora da nova escola de Jerusalém foi Ieda Araújo Netto.